Os efeitos da publicidade infantil

O Dia das Crianças já passou, mas o ato de presentear nossas crianças traz à tona uma questão importante, que é o apelo ao consumo voltado especificamente para o público infantil. O grande ponto de discussão é se as crianças estão preparadas para interpretar de forma crítica os apelos que lhe são dirigidos. De acordo com especialistas do Instituto Alana, as crianças acabam se expondo à publicidade de forma direta e isso pode gerar algumas consequências, já que elas ainda não sabem discernir o que é conteúdo ou propaganda.

Em bate papo com Isabella Henriques, diretora de Defesa e Futuro do Instituto Alana, foi discutido o consenso na comunidade científica mundial de que a publicidade voltada ao público infantil está relacionada com alguns problemas da sociedade atual, como obesidade infantil, “adultização” da infância, erotização precoce, consumo precoce de álcool e tabaco, diminuição das brincadeiras criativas, violência e estresse familiar. “Todos esses problemas se acirram em decorrência da alta exposição de crianças a mensagens mercadológicas”, afirma Isabella. “As crianças estão em fase de desenvolvimento, e, por isso, não conseguem entender o caráter persuasivo embutido nas mensagens comerciais”, diz.

“É sabido que os pequenos têm grande influência na escolha de produtos para toda a família: de alimentos a eletrodomésticos, de roupas a carros”, diz Raquel Fuzaro, do Movimento Infância Livre do Consumismo, formado por um grupo de pais e de mães que atua contra a publicidade voltada às crianças. “Não é à toa, portanto, que os recursos dedicados às campanhas de marketing para crianças são crescentes.” A Associação Brasileira de Anunciantes (ABA) estima que entre R$ 400 milhões e R$ 1,2 bilhão sejam investidos por ano em publicidade infantil.

Os possíveis efeitos da publicidade infantil
“A exploração sexual, a gravidez precoce, a violência e a perda da autoestima são alguns dos retornos negativos a publicidade que explora a erotização na infância podem causar”, diz Isabella.
Segundo o gerente de programas da Childhood Brasil, Itamar Gonçalves, a “adultização da infância”, como esse fenômeno é conhecido, está inserida no cotidiano do brasileiro, muitas vezes sem que os adultos se dêem conta disso. Segundo ele, há diferença entre uma menina querer se vestir como a mãe – o que faz parte de seu desenvolvimento – e a criança ter desejos de consumo de objetos que ela nem precisa e que não são adequadas à sua idade, como resultado de uma publicidade voltada para ela.

Raquel ressalta que a publicidade infantil antecipa a sexualidade e resulta no ingresso cada vez mais cedo na vida sexual. “O forte apelo da mídia, que coloca as bonecas extremamente maquiadas e com roupas sensuais contribui, sim, para a erotização das crianças, que ficam mais expostas ao constrangimento e à violência sexual. Tenta-se aproximar a imagem da criança a de um adulto. E as consequências são diversas e, muitas vezes, perigosas”, diz.

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