Jovens pernambucanos convencem adolescentes e homens da comunidade a combater a violência contra meninas e mulheres

Recife, capital de Pernambuco, é hoje uma das localidades do país com altos índices de violência doméstica e sexual contra mulheres e meninas. As agressões psicológicas e sexuais começam muitas vezes na infância e na adolescência, e os autores da violência geralmente são pessoas muito próximas, como namorado, vizinho ou familiar.

Esta realidade pode estar mudando com a transformação e engajamento de jovens como Márcio Pereira de Albuquerque, de 27 anos. Morador da cidade de Paulista, região metropolitana de Recife, Márcio conheceu o tráfico de drogas aos 14 anos e era também um jovem bastante agressivo, violento principalmente contra meninas e homossexuais. Até que, aos 23 anos, Márcio começou a namorar uma adolescente militante do movimento de mulheres da região, que o incentivou a fazer parte de uma ONG feminista, onde começou a refletir mais sobre seus atos. Daí em diante, passou a fazer novas amizades, participar de fóruns e conhecer outros jovens envolvidos com causas sociais. “Participar do Projeto contra Violência de Gênero do Instituto Papai ajudou a me reeducar e melhorou o convívio com a minha família e com as pessoas ao meu redor”.

No Instituto Papai, localizado na capital pernambucana, Márcio teve a oportunidade de discutir as questões de gênero, violência contra a mulher e homofobia através de seminários, oficinas na escola e campanhas voltadas para jovens na comunidade. “Acho que os adolescentes deveriam procurar os grupos de juventude e organizações que trabalham com violência de gênero para melhorar as condições de vida das pessoas que elas conhecem e do lugar onde moram”, afirma Márcio. ”Hoje, eu me sinto mais feliz porque consigo respeitar as diferenças”.

A transformação na vida de Márcio é apenas um exemplo do resultado do Projeto contra Violência de Gênero, desenvolvido pelo Instituto Papai com apoio da Childhood Brasil desde 2007, com o objetivo de promover ações pelo fim da violência contra meninas e adolescentes a partir de um envolvimento de homens jovens.

“A idéia principal é que os jovens podem rever a forma como percebem e se relacionam com suas companheiras, namoradas e familiares”, diz Ricardo Castro, coordenador executivo dos projetos na temática violência de gênero do Instituto Papai. A iniciativa prevê ainda que, bem orientados, os jovens podem tornar-se multiplicadores de ações, dando exemplo para outros homens.

As ações apoiadas pela Childhood Brasil possibilitaram que o Instituto Papai desenvolvesse pesquisas sobre a realidade de meninos e meninas e sobre os serviços de saúde oferecidos às vítimas de violência. O apoio resultou também em um grupo de homens jovens que promovem ações em suas comunidades, envolvendo outros homens no compromisso de jamais cometerem um ato de violência contra uma menina, adolescente ou mulher, e de não se calarem quando presenciarem atos dessa natureza, uma vez que o silêncio é cúmplice da violência.

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