Escritora do best-seller Vida roubada não se considera vítima e incentiva a denúncia

Capa do livro Vida Roubada

A menina norte-americana Jaycee Lee Dugard brincava com os amigos e levava uma infância normal ao lado da família até ser sequestrada aos 11 anos de idade, na frente da parada de ônibus da escola. Durante 18 anos, ela ficou em cativeiro e foi abusada sexualmente pelo casal Philip e Nancy Garrido. Da relação forçada, ela engravidou duas vezes.

“Eu era igualzinha a você, até o dia em que minha vida foi roubada. Por 18 anos, fui prisioneira. Um objeto, usada e abusada por alguém. Por 18 anos, não pude pronunciar meu próprio nome. Virei mãe e fui obrigada a ser irmã. Por 18 anos, sobrevivi a uma situação impossível. E, em 26 de agosto de 2009, retomei meu nome. Meu nome é Jaycee Lee Dugard. Não me considero uma vítima. Eu sobrevivi.”, relata a escritora em sua autobiografia chamada Vida Roubada (Editora Record/Best Seller).
Jaycee escreveu o livro quando tinha 31 anos – a autora conta que foi uma das maneiras que ela encontrou para superar este trauma: “Quero fazer isso pelas vítimas de abuso sexual que geralmente guardam segredos, com medo e/ou vergonha (…). A sobrevivência é a força, e não a vergonha”. Em seu livro, ela narra a violência sofrida e a solidão que sentia, trancafiada num quintal e forçada a não pronunciar o próprio nome. Engravidou duas vezes ainda adolescente (a primeira vez, aos 14 anos) e suas filhas passaram a ser sua única companhia.

Incentivo à denúncia
A obra estimula a sociedade a observar os abusos dentro de casa e comunicar as autoridades se houver algo errado. “Ainda existem famílias que parecem ótimas por fora, mas se alguém olhasse mais perto descobriria horrores inimagináveis”. Se duas policiais de Berkeley não tivessem denunciado, Jaycee poderia estar trancafiada até hoje. O casal foi condenado à prisão perpétua, mesmo tentando inverter a história, dizendo que eram vítimas do caso.

Jaycee também diz que foi muito difícil tomar coragem de escrever o livro, mas foi incentivada pela mãe e pela terapeuta. “Entrar de novo naquele estado de espírito em que eu estava naquela idade é difícil e corrói as minhas entranhas. Sinto se não o fizer, continuo a proteger o meu seqüestrador e estuprador”.

Nas entrevistas concedidas, a autora conta chorando os seus dias de martírio e como conseguiu arranjar forças para sobreviver. “Eu precisava ter esperança. A esperança estava no lugar errado, mas, às vezes, é preciso se concentrar nela para sobreviver”

O livro hoje é um best seller, tendo vendido mais de 175 mil cópias em um único dia nos Estados Unidos.

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